uma lógica de funcionamento
Arte et Facto
Adriano Lima
domingo, janeiro 07, 2024
Cada guerra
uma lógica de funcionamento
quinta-feira, dezembro 29, 2022
Dia do saio
Se é para o bem de todos, que me importa?,
ou para a felicidade geral da nação, não me interessa,
digam ao povo que saio
Saio pelo voto perdido
com a barriga cheia
e a cara lustrada
Saio com aposentadoria gorducha
e o raio que o parta
pra se virar com a lambança que deixei
Vou-me embora com ego magoado
uma canela marcada
e uma cicatriz sigilosa
Deixo para trás o que não me vale
o que não me bajula
e o que não dava para carregar escondido
Diga ao povo que lute
ao gado que chute
os portões do quartel
Tenho férias previstas
não cabem consorte, ativistas
na minha garupa
Digam ao povo que saio
sem ter que fingir desmaio
ao desagarrar-me da faixa
Vou-me embora contrariado
com preces não atendidas
e contas não pagas
De herança, deixo o balaio de g(f)atos
algumas cinzas que escaparam
segunda-feira, janeiro 31, 2022
A queixa dos vermes neste 7º dia
Estoura
hoje uma rebelião andada em curso
não
provaremos dessa carne pútrida
que teus
restos agora sem vida
encontrem
outra maneira de voltar ao pó
Pergunta
aos astros o caminho
sonda
teus autores o método
implora
preces aos seguidores
teoriza
outra retórica de destruição
O
canalha que foste em vida
o pulha
que não te negaste ser
o
charlatão da escritura peçonhenta
o
sofista certificado por inépcia
Encontra
agora uma receita
descobre
outro conselho
de como
definhar tuas carnes
na
solidão do pós-vida
Não te
serão úteis teus comparsas
não te
acorrerão as gentes tolas
não te
farão culto teus crentes
sequer
te erguerão uma estátua de sal
Não
provaremos tua carne chula
abandonada
sob uns palmos de terra
só tua
mentira acompanhará tua amargura
enquanto colhes teus frutos de guerra
quinta-feira, abril 22, 2021
Inspiração para escrever
Você já se perguntou: – O que vem antes do primeiro passo?
A palavra inspiração lembra uma realidade abstrata, uma emoção que move o artista, um impulso que fortalece o atleta, uma tenacidade que movimenta a criança que se diverte sozinha com os brinquedos em um mundo maior que a realidade.
A gente perde a inspiração. Ontem eu estava inspirado. Vou viajar para buscar inspiração. O que é que te inspirou a fazer este discurso? A inspiração tem um quê de glúon quântico: aparece e desaparece.
Para me inspirar a escrever, eu me pergunto por estas três partículas de criação:
– Quero mesmo escrever?
– Preciso escrever sobre isto?
– Sei escrever este assunto?
Não nesta ordem, nem com a mesma força, é assim que me inspiro.
terça-feira, abril 20, 2021
O logo Arte et Facto
Existir tem lá a sua
medida
de arte e fazer
Já faz um tempo que havia pensado escrever sobre o logo Arte et Facto. Arte e fazer eram palavras dançando a música do pensamento meu na época que tive vontade de criar uma marca que pudesse acompanhar meu trabalho. O fazer arte e a conexão com a filosofia eram os critérios para delimitar o processo criativo no momento. Estava unindo gosto e formação acadêmica. E pra compensar um pouco mais o gosto, acabei escolhendo arte et facto em latim para descompor o termo artefato, sem me preocupar com definições etimológicas mais profundas. Tinha clareza que se tratava de dois modos de fazer, um de arte e outro o fazer propriamente dito.
Para a criação da imagem do logo, a escolha foi espelhar a letra phi minúscula do alfabeto grego, com a qual se escreve filosofia. A escolha do espelho foi motivada pela ideia do olhar que se debruça para ver o mundo. Olhar no espelho é deparar-se com o reflexo. Não é um si mesmo, mas já um outro inverso. Nosso olhar nos retorna um mundo que já passou por uma inversão. O reflexo converge, diverge, torce, distorce e contorce.
Estar no mundo e
pensar o mundo,
pela arte e pelo
fato. Um existir e um fazer.
Pela arte e pelo fato
o fato é o que se coloca diante de nós
a arte é o que elaboramos desta experiência
a doxa e a hipótese são frutos de
individualidade
quando coincidem com outras, consensos de
verdade,
o que dizemos que é, já é captado invertido
pelos olhos
impõe a tarefa compreensão
o fato, o apreendemos assim torto, desviado,
a arte, é este labor de comunicação
o fato é um presente do universo das coisas,
desse cosmo-mundo que agarramos contra o
tempo
a arte é um agradecimento,
nosso jeito humano de manifestar criação
o fato é o que se coloca diante de nós
a arte é o que elaboramos desta experiência
experiência é abrir os olhos, ver a extensão,
cores e formas
experiência é abrir o nariz, respirar os
cheiros, odores e prenúncios de sabores
experiência é abrir a boca, provar o gosto, degustar
texturas e julgar combinações
experiência é abrir as mãos, tocar a pele das
coisas, sentir o peso da matéria e transportar acidentes ônticos
experiência é abrir os ouvidos, escutar
rebentos sonoros, apreciar timbres, fonemas e reconhecer o silêncio nas
entrefalas
experiência é o que sobra, dos sentidos, no
pensamento
é o que nos cobra a imaginação a cada momento que a consciência nos lembra estarmos vivos
quinta-feira, dezembro 31, 2020
Redundâncias desnegadas: este mesmo ano novo
É incrível e inacreditável
tudo o que se esconde debaixo das teclas do teclado.
Restos de uma comida,
manchas de outra bebida
e uns pedaços que eram de mim.
Eu nego!
Eles que façam DNA!
Lamentos de um ano viral,
da estupidez ignorante, burra,
negacionista, antigotestamentacionista,
doida para vomitar as pérolas ruminadas de seu (ex)intelecto
na cabeça de um microfone,
na cabeça de um jornalista,
na cabeça de um eleitor,
na cabeça de um membro do rebanho;
doida para rachar sua violência
escondida nas ordens dadas
e nascidas de uma autoridade
que só busca o próprio bem.
Não, este ano não vai acabar.
A ciência continuará sua busca, dúvida atrás de dúvida.
A indústria farmacêutica... não vou falar dela hoje.
Os bancos seguirão lucrando, em dólar, em euro, centavo por centavo.
O trabalhador contribuinte permanecerá trabalhando e contribuindo,
sem pausa para metáforas,
anestesiado por eufemismos,
na luta frenética e interminável
por figuras de saúde, educação, segurança, pão e paz.
Os três poderes teimarão nos poderes,
tampando com a peneira rota
as brechas do sistema,
das leis,
das medidas permanentemente provisórias,
da aristocracia disfarçada demo(sem)cracia.
Nossas vozes insistirão nos versos,
nos panelaços,
nas teses,
nos enfrentamentos,
no de(a)bate,
nas postagens.
As vidas que se foram, sabemos bem, não voltarão.
E como nos fazem falta!
O negro, a mulher,
as tantas outras orientações sexuais,
políticas, religiosas, culturais,
as inúmeras minorias das que,
vez ou outra, todos fazemos parte,
vamos insistir gritando para respirar e viver!
Feliz este ano que, todos os dias,
queremos novo!
São José dos Campos, 31 de dezembro 2020
Cada guerra
Cada guerra consigo enterra uma lógica de funcionamento Com a arma mais potente vem a verdade mais forte Cada morte é uma moeda com dois lad...
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A imaginação, fonte principal da poesia, é o reino do impossível hic et nunc, não do impossível em si. A imaginação, pelo contrário, existe...
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Estoura hoje uma rebelião andada em curso não provaremos dessa carne pútrida que teus restos agora sem vida encontrem outra maneira de volta...